quarta-feira, 27 de abril de 2011

Comícios e passeatas.

No ano seguinte, o movimento ganhou massa crítica e reuniu condições para se mobilizar abertamente. Marcado para o dia do aniversário da cidade de São Paulo (25 de janeiro), o primeiro grande comício da campanha por eleições diretas para presidente foi viabilizado por Franco Montoro, então governador paulista, na Praça da Sé. A partir daí, o movimento ganhou as ruas e a mídia.
A essa altura, a perda de prestígio do regime militar junto à população era grande. Militares de baixo escalão, com seus salários corroídos pela inflação, começavam a pressionar seus comandantes - que também estavam descontentes.
No dia 16 de abril, pouco antes da votação da Emenda Dante de Oliveira, realizou-se um último comício em São Paulo. Só que desta vez, a Praça da Sé parecia muito pequena. Foi escolhido então o Vale do Anhangabaú, que recebeu uma multidão estimada em mais de 1,5 milhão de pessoas. Foi a maior manifestação de rua jamais vista no País.

Vista parcial do comício do Vale do Anhangabaú, São Paulo, em 16 de abril de 1984. Foto: Jorge H. Singh
Houve grandes comícios e passeatas, pelo País:
  • Abreu e Lima, Pernambuco, 31 de março de 1983, por ser o 1º ato público, não avolumado de pessoas;
  • Goiânia, 15 de junho de 1983, 5 mil pessoas;
  • Teresina, 26 de junho;
  • Pernambuco, 12 de agosto;
  • São Paulo, 27 de novembro, 15 mil pessoas. Nesta data faleceu o senador Teotônio Vilela;
  • Ponta Grossa, 09 de dezembro, mil pessoas;
  • Olinda, 05 de janeiro de 1984;
  • Curitiba, 12 de janeiro, 40 mil pessoas. Este comício teve a presença de um suposto Juan Carlos Quintana, que se dizia deputado argentino e representante do então presidente Raul Alfonsin. Depois descobriu-se que não era deputado, nem representante, mas um agente infiltrado para que o movimento das diretas fosse visto como se tivesse influência externa;
  • Salvador. 20 de janeiro, 15 mil pessoas;
  • Vitória, 21 de janeiro, 10 mil pessoas;
  • Campinas, 21 de janeiro, 12 mil pessoas;
  • Praça da Sé, São Paulo, 25 de janeiro, 300 mil pessoas;
  • João Pessoa, 26 de janeiro, 10 mil pessoas;
  • Olinda, 27 de janeiro, 30 mil pessoas;
  • Praia de Pajuçara, Maceió, 29 de janeiro, 20 mil pessoas;
  • Belém, 16 de fevereiro, 60 mil pessoas;
  • Passeata no Rio de Janeiro, da Candelária à Cinelândia, 16 de fevereiro, com 60 mil pessoas;
  • Passeata no Recife, 17 de fevereiro, com 12 mil pessoas;
  • Manaus, 18 de fevereiro, 6 mil pessoas;
  • Caminhada em Capão da Canoa, Rio Grande do Sul, 19 de fevereiro, 50 mil pessoas;
  • Osasco (SP), 19 de fevereiro, 25 mil pessoas;
  • Rio Branco, 19 de fevereiro, 7 mil pessoas;
  • Cuiabá, 20 de fevereiro, 15 mil pessoas;
  • Belo Horizonte, 24 de fevereiro, 300 mil pessoas;
  • São Paulo, 26 de fevereiro, manifestações em 300 municípios;
  • Aracaju, 26 de fevereiro, 30 mil pessoas;
  • Juiz de Fora, 29 de fevereiro, 30 mil pessoas;
  • Anápolis, 8 de março, 20 mil pessoas;
  • Passeata no Rio de Janeiro, da Candelária à Cinelândia, 21 de março, com 200 mil pessoas;
  • Campinas, concerto (sem discursos), 20 mil pessoas;
  • Uberlândia, 23 de março, 40 mil pessoas;
  • Campo Grande, 24 de março, 40 mil pessoas;
  • Londrina, 02 de abril, 50 mil pessoas;
  • Natal, 06 de abril, 50 mil pessoas;
  • Petrolina, 07 de abril, 30 mil pessoas;
  • Igreja da Candelária, Rio de Janeiro, 10 de abril, 1 milhão de pessoas;
  • Goiânia, 12 de abril, 300 mil pessoas;
  • Porto Alegre, 13 de abril, 200 mil pessoas;
  • Vale do Anhagabaú, São Paulo, 16 de abril, 1,5 milhão de pessoas;

sábado, 23 de abril de 2011

Eleições diretas para presidente.

Nas últimas conversas que tivera com membros ligados ao serviço de segurança notara um clima estranho e sabia que aonde havia fumaça havia fogo.
Faro, era tudo que um bom repórter precisava. Alguns telefonemas poderiam coloca-lo mais perto dos fatos e era isto que faria pela manhã.
_Meu Deus preciso dormir!!!Tenho que acordar logo.

"Diretas Já" foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil, em 1984. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil se concretizaria na aprovação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso Nacional.
Agregou diversos setores da sociedade brasileira. Participaram inúmeros partidos políticos de oposição ao regime, além de lideranças sindicais, civis, estudantis e jornalísticas. Destacaram-se os políticos Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, André Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Teotônio Vilela, José Serra, Luis Inácio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Leonel Brizola, Miguel Arraes entre outros.
A primeira manifestação pública pelas eleições diretas ocorreu no recém emancipado município de Abreu e Lima, [1] em Pernambuco, no dia 31 de março de 1983. Foi noticiado pelos jornais do estado de Pernambuco, na época, organizado por membros do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) no município, seguido por movimentações em Goiânia, em 15 de junho de 1983, e posteriormente também na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, no dia 27 de novembro de 1983 na cidade de São Paulo. Com o crescimento do movimento, que coincidiu com o agravamento da crise econômica (em que coexistiam inflação fechando o ano de 1983 com uma taxa de 239% e uma profunda recessão), houve a mobilização de entidades de classe e de sindicatos. A manifestação contou com representantes de diversas correntes políticas e de pensamento, unidas pelo desejo de eleições diretas para presidente da República. Muitos políticos da situação, sensíveis às suas bases, também formaram um bloco de dissidência no Partido Democrático Social (PDS), ex-Arena, o partido situacionista.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Jornalismo viceral.

04:25 h 18 de fevereiro - Brasília- DF
Acabava a reunião do partido e era hora de definir  aonde dormiria. Não havia levado as chaves do apartamento na Asa Norte e não sabia se deveria incomodar o colega da redação que ofereceu pousada. Chegou na sexta feira e tinha trabalhado todos os dias até de madrugada reunindo informações sobre a posse do novo Presidente da Republica escolhido pelo colégio eleitoral. Nunca tinha presenciado no pais um movimento tão coeso e espontâneo como este desde a conquista do tricampeonato mundial de futebol no México em 1970. A população estava eufórica com o fim do militarismo no poder e os discursos inflamados do candidato eleito acendiam ainda mais as esperanças de um país mais justo e próspero. Na sua opinião o que este candidato falava sobre soberania nacional e preservação dos recursos internos poderiam despertar a ira dos países que vinham se beneficiando com o nosso sistema de governo. As coligações que haviam sido feitas com membros de partidos ligados ao PDS, que era notoriamente de direita, na composição de uma chapa forte o suficiente para ser escolhida pelo colégio eram meio estranhas. Como vender a alma ao diabo, nas palavras de alguns jornalistas da redação do Rio.
Mas isto tudo era apenas uma suposição e como jornalista era melhor buscar os fatos e os furos de reportagem que poderiam render muitos pontos junto ao chefe de redação e venda record de jornais e matérias jornalísticas.
            Tinha acompanhado com exclusividade toda a movimentação para aprovação da emenda Dante de Oliveira. Inclusive com informações secretas obtidas junto a um informante sobre o apagão promovido pela estatal de eletricidade com intenção de prejudicar a divulgação das notícias sobre os movimentos populares no dia da votação. Aquela matéria teve uma ótima repercussão e graças a ela havia sido destacado pelo chefe de redação para acompanhar em Brasília os movimentos políticos pelas diretas já. Não era nenhum Alexandre (Garcia) mas tinhas suas fontes dentro do congresso e se fosse necessário faria frente aos veículos de comunicação mais poderosos e influentes que não poupavam nem dinheiro nem esforços para obter as melhores matérias.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Exuberância e sensualidade.

Mister Smith, estava escrito na folha de papel branco que segurava em frente ao peito na esperança de ser identificado pelo visitante. Tinha na expressão um misto de dor e ressentimento olhando com tristeza a cara das pessoas que desembarcavam do jato da Varig. A cada gordo que passava com a cara vermelha saindo da sala da alfândega sua expressão se franzia mais.
_Mister Smith? Smith Carter?
_Sim sou eu. Respondeu sem convicção e com grande espanto.
_Podemos ir? O senhor poderia me ajudar com as malas?
_Claro, será um prazer senhorita?
_Lim Jang. Muito prazer.
_O prazer é meu. Como foi a viagem? Espero que não tenha sido cansativa.
_Um pouco, sentei com um francês que tentou me contar toda a história da França e sobre o futuro das relações comerciais com o Brasil.
_Falou sobre Maurice?
_Sobre Mitterrand geralmente falam com admiração. Suas reformas agradam muitos dos franceses. Não são todos.
_Com certeza! Disso tinha certeza pelo rumo que as instruções vinham tomando e pelas últimas ações extremistas de que tinha notícia.
            Saíram pelos grandes portões do setor internacional do aeroporto em direção ao ponto dos táxis. Estava meio desnorteado com a beleza daquela oriental de cabelos negros e lisos. O corpo escultural da chinesa contradizia o que diziam sobre as mulheres orientais e suas formas pouco exuberantes. Aquela mulher ao seu lado era boa pra chuchu, como se dizia por aqui. Precisava manter a seriedade que o contato exigia mas não conseguia tirar os olhos de Lim Jang.
_Posso chamar você de Lim?
_Claro   Sr. Smith!
_Lim, quando ficou sabendo que viria ao Brasil?
_Sr. Smith, não posso explicar os detalhes da missão.
_Sim é claro eu sei, me desculpe.
            Mancada. Estava cansado de saber que os assuntos relacionados a planejamento de atividades eram segredo e deveriam ser conhecido apenas pelos envolvidos diretamente nas missões. Mas continuava curioso para saber porque o grupo francês havia designado uma oriental e como dominava tão bem a língua portuguesa. De onde saiu aquela mulher?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O foco do mundo.

00:25 h do dia 18 de fevereiro de 1985, segunda feira Rio de Janeiro, Brasil. Chove no Rio. A ressaca indica que o vento mudou e o tempo pode ficar um pouco mais frio e agradável. O calor no Rio nesta época do ano é insuportável e andar pelo calçadão em Ipanema com a brisa no rosto é um dos prazeres que todos devem experimentar pois os  prédios iluminados ao longo da orla e a topografia montanhosa da cidade maravilhosa criam uma sensação indescritível de liberdade.
Já havia se concentrado no trabalho que deveria realizar, contudo não se acostumava com a idéia de ser inquirido sobre seus métodos. Sabia o que deveria ser feito e como faze-lo. Seu conhecimento do país e do povo permitiam um transito fácil por qualquer ambiente, escala social, subúrbio e os altos escalões políticos. Chegar despercebido e sair sempre sem ser notado era o seu lema. Aparecer somente nas colunas sociais e festas milionárias.
Boas mulheres, comida farta e refinada, bebida importada e os melhores charutos. Caipirinha, a danada da caipirinha, vinha lembrando dela o que não era nada agradável. Havia se empolgado tomando mais do que devia com uma nova amiga ligada a um banqueiro magnata que fabricava tratores e construía prédios de alto luxo. Não obtivera as informações que necessitava e tentou forçar a barra mas a ‘amiga’ era boa no copo e foi embora sóbria deixando apenas o telefone e a promessa de conversar sobre o assunto na terça feira quando se encontrariam no coquetel do banco.O bar em que estavam, Garota de Ipanema, era uma recordação da sua chegada ao Rio. As letras das músicas de Vinícius de Morais estavam escritas nas paredes e eram “a cara da cidade”. Aquele povo cultuava a fala malandra e o jeito sensual que ele adorava.
A caminhada que resolvera fazer pela orla serviu para melhorar a azia que sentia.
TÁXÌ!!!!. Embarcou e ordenou ao motorista daquele Opala azul estranho.
_Me leve para o galeão por favor passando pelo aterro!
_O senhor não prefere ir pela lagoa?
_Siga pelo aterro por favor!
            Queria ver o hotel Glória e o aeroporto Santos Dumont, passar pelo porto e ver navios. A avenida Brasil neste horário não se parecia nada com o tumulto que costumava encontrar pelas manhãs quando tinha que enfrentar aquele trânsito maluco com todos atrasados querendo chegar ao trabalho. O aeroporto do Galeão já se tornara uma rotina nos seus contatos com membros das organizações estrangeiras. Uma hora era alguém ligado ao partido francês ou um figurão inglês. Quase sempre homens, o que enchia o saco. Poucas vezes recebeu alguma mulher em missão no Brasil, lembrava-se da russa Vlada, também como poderia se esquecer. Vladawiniskychaya era o seu nome e as lembranças eram de um grande tumulto nas relações internacionais da firma. O governo brasileiro sistematicamente acompanhou as incursões pelos gabinetes e sindicatos chegando a deter ele e a russa por quase 12 horas na sala de um adido militar cínico e idiota. A russa era macha, lembrava uma orca gorda que parecia nunca ter comido carne e nem bebido Coca Cola. Agora estava novamente se dirigindo para o aeroporto sem saber o que iria encontrar, tinha apenas um pressentimento.