sexta-feira, 1 de abril de 2011

O foco do mundo.

00:25 h do dia 18 de fevereiro de 1985, segunda feira Rio de Janeiro, Brasil. Chove no Rio. A ressaca indica que o vento mudou e o tempo pode ficar um pouco mais frio e agradável. O calor no Rio nesta época do ano é insuportável e andar pelo calçadão em Ipanema com a brisa no rosto é um dos prazeres que todos devem experimentar pois os  prédios iluminados ao longo da orla e a topografia montanhosa da cidade maravilhosa criam uma sensação indescritível de liberdade.
Já havia se concentrado no trabalho que deveria realizar, contudo não se acostumava com a idéia de ser inquirido sobre seus métodos. Sabia o que deveria ser feito e como faze-lo. Seu conhecimento do país e do povo permitiam um transito fácil por qualquer ambiente, escala social, subúrbio e os altos escalões políticos. Chegar despercebido e sair sempre sem ser notado era o seu lema. Aparecer somente nas colunas sociais e festas milionárias.
Boas mulheres, comida farta e refinada, bebida importada e os melhores charutos. Caipirinha, a danada da caipirinha, vinha lembrando dela o que não era nada agradável. Havia se empolgado tomando mais do que devia com uma nova amiga ligada a um banqueiro magnata que fabricava tratores e construía prédios de alto luxo. Não obtivera as informações que necessitava e tentou forçar a barra mas a ‘amiga’ era boa no copo e foi embora sóbria deixando apenas o telefone e a promessa de conversar sobre o assunto na terça feira quando se encontrariam no coquetel do banco.O bar em que estavam, Garota de Ipanema, era uma recordação da sua chegada ao Rio. As letras das músicas de Vinícius de Morais estavam escritas nas paredes e eram “a cara da cidade”. Aquele povo cultuava a fala malandra e o jeito sensual que ele adorava.
A caminhada que resolvera fazer pela orla serviu para melhorar a azia que sentia.
TÁXÌ!!!!. Embarcou e ordenou ao motorista daquele Opala azul estranho.
_Me leve para o galeão por favor passando pelo aterro!
_O senhor não prefere ir pela lagoa?
_Siga pelo aterro por favor!
            Queria ver o hotel Glória e o aeroporto Santos Dumont, passar pelo porto e ver navios. A avenida Brasil neste horário não se parecia nada com o tumulto que costumava encontrar pelas manhãs quando tinha que enfrentar aquele trânsito maluco com todos atrasados querendo chegar ao trabalho. O aeroporto do Galeão já se tornara uma rotina nos seus contatos com membros das organizações estrangeiras. Uma hora era alguém ligado ao partido francês ou um figurão inglês. Quase sempre homens, o que enchia o saco. Poucas vezes recebeu alguma mulher em missão no Brasil, lembrava-se da russa Vlada, também como poderia se esquecer. Vladawiniskychaya era o seu nome e as lembranças eram de um grande tumulto nas relações internacionais da firma. O governo brasileiro sistematicamente acompanhou as incursões pelos gabinetes e sindicatos chegando a deter ele e a russa por quase 12 horas na sala de um adido militar cínico e idiota. A russa era macha, lembrava uma orca gorda que parecia nunca ter comido carne e nem bebido Coca Cola. Agora estava novamente se dirigindo para o aeroporto sem saber o que iria encontrar, tinha apenas um pressentimento.

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